parada no farol
pensando
que deveria ter lido meu poema
sobre a palavra calêndula
que na verdade era sobre sândalo
quando me dei conta
o poema já estava pronto
a professora falava sobre pele
sobre trocar de pele
como uma serpente
ela falava sobre
a serpente que devora seu próprio corpo
parada no farol
no carro ao lado uma menina olhava pela janela
subia e descia o vidro
eu sorri
porque é isso que fazemos com crianças
eu sorria
ela me encarava
lembrei do homem que mastigava
sua própria pele
uma camada
desprendendo do corpo
o vidro subia e descia
um par de olhos azuis
encarando o meu sorriso
lembrei da palavra sândalo
nada a ver com calêndula
mas as duas me lembram
pêndulo
o farol abriu
a menina se foi
e eu também
cantando o refrão de uma música que conheci
quando tinha uns 15 anos.