no meio da tarde
sinto um frio estranho
mãos e pés gelados
e tremo um pouco
coloco as mãos
embaixo das coxas
mas preciso usar
as mãos
sinto frio na nuca
solto o cabelo
mas a franja está
longa demais
sinto frio na ponta
dos pés
mexo os dedos dentro
do sapato
mas o couro está
justo demais
abro um livro para me
distrair e percebo que
gosto quando os últimos
versos de um poema
sobram sozinhos na
página em branco
como se precisássemos
de todo aquele espaço
para nos preparar para
o poema seguinte
como um animal
de sangue frio.